21/04/2018

Hey meus amores! Como estão? É certo dizer que todas as coisas "ruins" que acontecem em nossas vidas geram algo bom. O mais recente foi um comentário aqui que me magoou e ao mesmo tempo lembrou que eu mudei e que infelizmente algumas pessoas ainda não adquiriram maturidade. Enfim, trouxe-me novamente a vontade de postar hoje!

Resolvi compartilhar com vocês uma redação que escrevi esse ano no colégio, proposta pelo professor da matéria. Ainda não recebi a correção, logo me desculpem se notarem algum erro. Espero que gostem!

As janelas da alma

  Os olhos. Cinzentos e tempestuosos, já quase cem por cento consumidos pela catarata, ainda eram a única coisa que ela reconhecia em si. Continham memórias boas e ruins, uma janela para seus anjos e demônios.
  O vento era forte e gelado, açoitando a cabeleira ruiva de uma Kate que não conseguia conter sua alegria e rodopiava loucamente no meio do mato alto da montanha, com os braços abertos. Sentia que podia abraçar o mundo, tamanha era a felicidade! O vestido rodopiando e enchendo de carrapichos causava gargalhadas no namorado, sentado na aconchegante manta que trouxera para o piquenique. Passada a euforia da jovem, a alegria por não precisar mais esconder o amor que sentia, sentou-se ao lado do amado.
  Os olhos. Ela ainda conseguia se lembrar dos abraços e beijos, das promessas bregas sussurradas, do refrigerante diet com que gastara suas economias e da luz da lua. Oh, que bela luz! Tornavam o encontro mil vezes mais romântico do que os caros restaurantes nos quais ele insistia que um dia a levaria — e que ela nem tanto apreciava assim. Lembrava-se das sombras azuladas que o enorme carvalho, magnífico e outrora assustador, jogava sobre o matagal. Mais uma vez, os olhos. Traiçoeiros, trataram logo de colocar na mesa as cartas responsáveis por rasgar seu interior. Mostraram-na a chuva. 
  Kate e Connor corriam na chuva, entusiasmados com a ideia de realizar a mais requisitada cena dos livros, o famoso — e clichê — beijo com pingos escorrendo pelo rosto e a roupa encharcada. O homem, sempre mais responsável que ela, que ainda parecia ter alma de criança, insistiu que deveriam voltar para a casa. Ora essa, não queria que ambos sucumbissem a um resfriado!
  Já dentro da aconchegante casinha que adquiriram depois do casamento três anos atrás, Kate jogou-se no sofá, molhada, com a mão entrelaçada na do amado, deitado no tapete. A chuva agora tomara outra proporção, balançando o jovem carvalho que haviam plantado no quintal e fazendo com que a energia sumisse, deixando o casal no completo breu. A única fonte de luz eram os relâmpagos que surgiam no céu, como uma monstruosa orquestra. Era lindo e assustador.
  Os olhos. Ainda fixos, fizeram o coração de Kate dar um pulo: a memória agora não era voluntária, simplesmente surgia em fleches de um filme que a traumatizara. O barulho ensurdecedor de um raio. A correria. Connor colocando-a do lado de fora da casa e voltando para não se sabe o quê. As lágrimas quentes e salgadas se misturando com as gotas de chuva. 
  O cabelo grisalho. Kate tocou levemente o próprio reflexo no espelho, quase que para ter certeza de que pertencia a si. Não se reconhecia mais, nem na aparência, nem no espírito. Seus olhos. Connor costumava dizer que ela sorria mais com ele do que com a boca. Agora, eram tão avassaladores quanto a tempestade de anos atrás. Encarou mais uma vez o reflexo no espelho e pensou como no fundo não era inteiramente feliz. Sua vida dependia de memórias, acontecimentos que não mais podia partilhar e também não podia apagar.
  A caminhada foi longa e cansativa para sua idade. Demorou, inclusive. Mas já havia tomado sua decisão, colocar um fim no jogo de cartas traiçoeiro que seus olhos insistiam em jogar. Parou por um momento para contemplar a cena na sua frente: as raízes, o buraco no chão, o tronco repleto de musgo e a copa, caída sobre onde outrora fora sua sala de estar, ainda com folhas verdes do início da primavera. Kate entrou pelo buraco na parede e, mesmo com a grande quantidade de poeira, fez questão de manter tudo do jeitinho que estava. Deitou-se no tapete, olhando os raios de sol fracos do fim de tarde que entravam pelos buracos de vidros que foram quebrados há tantos anos.
  As janelas não mais abririam.  

4 comentários

avatar
Anônimo

Uau, que texto lindo. Eu acho que vocÊ já pode ir preparando sua carreira de escritora, miga! Narrativa cativante e bem escrita. Parabèns. Espero que traga mais posts assim.

REPLY

Hey Haysla! Tudo bem? Sério, muito obrigada pelo elogio embora, como comentei no post, ainda não recebi a correção. Adoro escrever mas por puro hobbie! Hahah
Beijos

REPLY

Flor!
Não liga para os comentários negativos não, isso sempre vai existir.
Seu texto é singelo e passa verdade.
Pode continuar!

Boa semana :)
Beijinhos :*
Sankas Books

REPLY

Hey moça, tudo bem?
Você não tem ideia do quanto tuas palavras me alegram! Me deixa muito feliz, mesmo.
Boa semana para ti também!
Obrigada e beijos.

REPLY

Três Pontos e Fim . 2017 Copyright. All rights reserved. Designed by Blogger Template | Free Blogger Templates